segunda-feira, 30 de maio de 2011

A lenda da noite

Negrinho do Pastoreio
            Diz a lenda que o Negrinho do Pastoreio era um pequeno menino escravo que tremia de medo do seu patrão. Este era muito bravo e quando estava irado colocava o pobre Negrinho de castigo.
            Um dia, ao perder uma corrida de cavalos, o seu patrão o amarrou numa árvore e deu-lhe uma surra de chicote. Depois ainda ordenou que o Negrinho fosse no ponto mais alto da fazenda e tomasse conta dos cavalos durante um mês e que se algo acontecesse a eles ele levaria mais um castigo.
            O pobre Negrinho, já vencido pela fome e sono, dormiu e os cavalos fugiram. Ao acordar, viu-se em apuros, pediu proteção a sua madrinha Nossa Senhora, e com uma pequena vela foi procurar os cavalos.
            Aconteceu que onde as gotas de cera de vela pingavam uma luz acendia-se e logo tudo ficou claro. O Negrinho encontrou os animais e levou-os de volta para a fazenda.

            Ainda hoje, se alguém perder alguma coisa e acender uma vela para o Negrinho do Pastoreio, diz-se que logo encontrará.

A lenda da noite
            Contam que num tempo muito antigo a noite ainda não existia. Só existia o dia. O único lugar onde havia escuridão era no fundo das águas. Era á que estava escondida a noite.
            Nesse tempo, os bichos e as plantas não eram como são hoje. Eram só coisas que falavam. Então, contam que a filha da Cobra-Grande casou-se com um moço. E a moça não queria ir dormir porque não existia noite.
            O marido dela falou:
             - Vem dormir, porque não tem noite mesmo, só tem dia.
            Aí a moça respondeu:
            - Quem tem a noite é meu pai. Mande seus três empregados lá na casa dele para trazer a noite.
            A Cobra-Grande deu um coco de tucumã para os empregados e avisou:
            - Não vão abrir esse coco no caminho. Se ele se abrir, tudo vai ficar escuro e as coisas se perderão.
            No caminho de volta, os empregados ouviram uns barulhinhos saindo do coco. Era  um barulho como dos sapos e grilos que cantam de noite.
            Um dos empregados queria abrir o coco para ver de onde vinha o barulho. Mas os outros não deixaram.
            Quando eles já estavam longe da casa da Cobra-Grande, eles não agüentaram de curiosidade e abriram o coco. De repente, tudo escureceu.
            A moça disse para o marido:
            -Eles soltaram a noite. Vamos esperar a manhã.
            Então as coisas que estavam espalhadas pela floresta viraram bichos de pêlo e de penas. As coisas dos rios viraram patos e peixes.
            Quando a moça viu a estrela-d’alva, disse para o marido:
            -Vem rompendo a madrugada, vou separar o dia da noite.
            Enrolou dois fios de cabelo. Com um fez o cujubim, pássaro que canta ao nascer do sol; com o outro fez o inhambu, que canta de noite.
            Os três empregados viraram macacos porque desobedeceram e abriram o coco de tucumã.

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