sábado, 2 de abril de 2011

Amanhã

Amanhã
Guilherme Arantes

Amanhã será um lindo dia, da mais louca alegria
Que se possa imaginar, amanhã, redobrada a força
Pra cima que não cessa, há de vingar

Amanhã, mais nenhum mistério, acima do ilusório
O astro-rei vai brilhar, amanhã a luminosidade
Alheia a qualquer vontade, há de imperar, há de imperar

Amanhã, está toda esperança, por menor que pareça
O que existe é pra vicejar, amanhã, apesar de hoje
Ser a estrada que surge, pra se trilhar

Amanhã, mesmo que uns não queiram será de outros que esperam
Ver o dia raiar, amanhã, ódios aplacados, temores abrandados
[Letra e Música de Guilherme Arantes]
          O sol brilha no horizonte. As árvores, frondosas e floridas, anunciam a primavera. As cores prevalecem na natureza. Os odores agradáveis se espalham pelo ar. Você está percebendo tudo isso? O quanto de todo esse movimento está sendo presenciado através de seus sentidos?
          Temos esta oportunidade todos os dias. Não damos o devido valor às coisas simples e belas que nos rodeiam. Ficamos projetando tudo para o amanhã, em que residem nossas esperanças, os dias mais luminosos, o vicejar das plantas que deixamos de vislumbrar no dia de hoje.
          Nossa louca alegria, cantada por Guilherme Arantes nesse clássico da Música Popular Brasileira, que nos dobra as forças e orienta os passos para a felicidade, tem que ser vivida ao longo de todo o trajeto. Não podemos ficar imaginando que o melhor é o pódio, a medalha, a conquista final...
          Cada movimento que realizamos para a consecução de nossos sonhos de vida tem que ser devidamente saboreado, festejado. Seja na vida pessoal ou profissional. Não é o troféu na estante que nos dá a melhor sensação do mundo, mas a recordação de tudo o que fizemos para que ele pudesse estar ali, ao alcance de nossos olhos.
          Passar numa prova, fechar um contrato, escrever um livro, ter um filho ou compor uma música são conclusões, fechamentos [e/ou inícios] de fases, etapas, trabalhos, projetos e experiências de vida. Degustar cada momento, bom ou ruim, entendendo que para chegarmos aos resultados finais com vitória iremos também ter que passar por alguns maus bocados, é o que deveríamos fazer...
          Quando o amanhã chegar, mistérios e ilusões dos dias que o precederam já vencidas, novas provações e possibilidades, dores e sabores, derrotas e vitórias estarão nos esperando e, de cada uma delas, devemos provar do seu sabor doce ou amargo...
Anoitecer
Desta hora não quero mais ter medo
É a hora em que o sino toca, mas aqui não há sinos; há somente buzinas, sirenes roucas, apitos aflitos, pungentes, trágicos, uivando escuro segredo; desta hora tenho medo.
É a hora em que o pássaro volta, mas de há muito não há pássaros; só multidões compactas escorrendo exaustas como espesso óleo que impregna o latejo; desta hora tenho medo.
É a hora do descanso, mas o descanso vem tarde, o corpo não pede sono, depois de tanto rodar; pede-se paz – morte – mergulho no poço mais ermo e quedo; desta hora tenho medo.
Hora de delicadeza, agasalho, sombra, silêncio. Haverá disso no mundo? É antes da hora dos corvos, bicando em mim, meu passado, meu futuro, meu degredo; desta hora, sim, tenho medo. (Carlos Drummond de Andrade)
Há um versículo bíblico que diz que “há tempo para todo propósito debaixo do sol”, ou seja, não é preciso ter pressa: haverá tempo para nascer, crescer, desenvolver e... morrer. Quando comparamos o tempo de hoje ao tempo de ontem, percebemos que os conceitos mudaram muito e a pressa do homem tem o feito perder a essência e o prazer de muitas coisas.
Dá para sentir saudades daquele “café da tarde” tomado junto a amigos e familiares. Tudo tinha um sabor diferente, não havia o “luxo” conquistado com tanta dor que temos hoje: um pão com manteiga, um café com leite, um bolo de fubá, tudo era degustado com mais calma. Hoje, até mesmo os nossos alimentos mais simples são feitos por mãos desconhecidas, afinal de contas, não temos mais tempo para nos dedicar ao preparo de alimentos...
Tudo isso é apenas o reflexo da mudança de valores que a sociedade tem sofrido, muitas vezes regidas pelo o que a mídia diz que é o correto. Há uma busca desesperada por melhores salários, melhores posições e, até mesmo quando se atinge tais objetivos, não se encontra satisfação. Hoje o dinheiro é exaltado em detrimento do amor à família, ao descanso e a Deus.
No poema acima, o autor fala sobre mudanças drásticas nos hábitos da vida da cidade comparando-a com a vida do campo. Tais mudanças fazem com que ele sinta medo da hora do anoitecer, ou seja, da hora que temos de parar a nossa árdua jornada, voltar para casa e descansar.
O que deveria ser uma hora de satisfação e de felicidade, o anoitecer tem sido o contrário, pois até o trajeto de retorno ao lar é tumultuado e perturbado por buzinas dos carros de motoristas impacientes.
Não há muito tempo para um sorriso de “bom-dia” (a não ser para aqueles que nos são convenientes). A hora que dantes era de delicadeza, agasalho, sombra, silêncio - características de proteção e de afago sem palavras, já que estas são dispensáveis quando se tem o verdadeiro amor - tornou-se a hora do medo, pois “não há muito disso no mundo”.
É tempo de encararmos os nossos medos e pensarmos em modelos de vida mais saudáveis, mais significativos e mais sábios, para que possamos dizer do anoitecer que “desta hora, sim, não tenho mais medo”.

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