sábado, 2 de abril de 2011

Carpe Diem

Paulo Freire
Educador Brasileiro
Vivemos em rede. Conectados. Plugados. Praticamente 24 horas por dia online. Pela Internet, através de nossos computadores e celulares, vamos do Brasil ao Japão em segundos. Temos contatos em todos os cantos do mundo. A tecnologia nos permite este assombro e nos abre possibilidades fantásticas. Estamos na “rede cercada de gente por todos os lados”.
Mas quem realmente conhecemos? Com quem convivemos? Onde estão as pessoas de carne e osso? E quando elas estão próximas mesmo, estendemos as mãos para elas? Sabemos quais são seus interesses, ideias, princípios? De que valem as redes se elas conectam, criam links, mas não permitem o estabelecimento de laços reais, profundos e verdadeiros entre as pessoas?
As escolas, como nos lembra Paulo Freire - com sua sabedoria própria e peculiar, simples e devastadora - só se constituem de forma plena enquanto ambientes de aprendizagem se a percebermos (e a realizarmos) indo além do estudo e do trabalho, seus elementos basilares...
Ir à escola para estudar é apenas pretexto e ainda não nos demos conta... A educação encerra possibilidades muito maiores e, ainda, possibilita a aprendizagem, literalmente como efeito colateral, a partir da interação, do encontro, da concretização de laços afetivos, da definição de objetivos comuns e da camaradagem...
E qual o maior ponto de encontro senão o fato de sermos todos seres humanos, gente de carne e osso, com nossas qualidades e fraquezas, medos e inseguranças, vitórias e conquistas? Professores, diretores, alunos, pais, funcionários e todos os elementos que estão na escola reúnem-se a partir da premissa da educação, mas este nobre propósito só se efetiva se conseguirmos criar elos que nos aproximem e que nos permitam unificar ações utilizando a riqueza que há em nossa diversidade...
Passar pela escola, ou ainda, em maior instância, pela vida, sem “criar laços de amizade”, “ambiente de camaradagem”, ou ainda sem “se amarrar nela”, como nos lembra com lirismo o mestre Paulo Freire, não é viver, é apenas sobreviver...
E no mundo de hoje, paralelos entre a escola e a sociedade, aceleradas, mas aparentemente perdidas quanto ao destino, nos conclama a refletir quanto ao mundo e a vida que queremos, para nós mesmos e nossos descendentes, amigos, parentes, vizinhos, conterrâneos...
Que escola desejamos? Que redes estamos construindo? Que vida almejamos? Pare. Pense. Se articule para chegar aonde realmente quer ir... Vá além dos prédios, dos livros, dos conteúdos... Ultrapasse o computador, o celular, as redes, a internet... Chegue nas pessoas, abrace seu próximo, estimule o companheirismo, seja amigo... Afinal de contas, é nisto que reside o objetivo final de todos e de qualquer um, simplesmente, na felicidade... E não há maior felicidade no mundo que o encontro fraterno e verdadeiro entre as pessoas...

“Maluco Beleza”
Misturando lucidez e maluquez...
Enquanto você
Se esforça pra ser
Um sujeito normal
E fazer tudo igual...
Eu do meu lado
Aprendendo a ser louco
Maluco total
Na loucura real...
Controlando
A minha maluquez
Misturada
Com minha lucidez...
Vou ficar
Ficar com certeza
Maluco beleza...
Raul Seixas
(Cantor e Compositor Brasileiro)
Os limites entre a lucidez e a insanidade, de tão tênues, passam despercebidos pela maioria das pessoas. E, mais do que isto, no mundo em que hoje vivemos, de ritmo tão alucinado e frenético, cruzar as linhas que delimitam aquilo que é considerado são para o que chamamos de loucura torna-se tão frequente que a percepção da sanidade e da insanidade foi ficando cada vez mais difícil...
Afinal de contas, quem é louco e quem é lúcido?
Lúcido é o sujeito que vive dentro daquilo que chamamos de normalidade podem dizer muitos. Mas a que normalidade se referem? Aquela que nos leva de casa ao trabalho e do trabalho para casa, num movimento sem fim em que fazemos tudo igual, com pouca ou nenhuma alteração de nossos cotidianos?
Lúcido é quem paga contas, pratica esportes, corta cabelo, escova os dentes, faz compras, muda de emprego, confere o saldo bancário ou vai ao cinema? Normal pode ser considerado o sujeito que ama a vida e não se submete a estereótipos, mantém sua originalidade, dá passos firmes em direção a trajetórias que escolheu por conta própria e que o fazem sentir real prazer em estar vivo, respirando, pensando...
E o louco? Quem é? Pode ser o Chico Picadinho, que corta em pedaços suas vítimas ou o Maníaco do Parque, para citar os casos mais notórios de insanidade, pensam tantos outros. A loucura estaria então nos atos impróprios e, principalmente, violentos...
Mas, e os loucos que oferecem flores e se isolam do mundo por opção, pois não se sentem incluídos? Sua reação, não violenta, não agressiva, denota loucura pela busca de um espaço onde se sintam melhor, onde se percebam dentro... Que tanto há de loucura nisto? E quais são os locais onde se refugiam? Dentro de si mesmos? No meio do mato? Na química que os isola e os aniquila?
Raul estava certo quando dizia que “controlamos” a nossa maluquez e a misturamos a uma esperada “lucidez”... Trazia a tona a lógica tão apropriada e adequada a este milênio, aquela do ditado popular que diz termos um pouco “de médico e de louco”, todos nós...
Mesmo os mais lúcidos já transgrediram e precisam disto como necessitam do ar que respiram... Ainda que diagnosticados como insanos, há muito mais lucidez por trás dos atos de muitos loucos do que imaginamos e jamais nos daremos conta disso, pois não queremos ouvir o que dizem, entender o que pensam, nos dispor ao diálogo com eles...
O certo é que, na vida, não há certos definitivos, assim como, por conseguinte, não é possível definir e estabelecer de forma igualmente definitiva, quem são os loucos e os lúcidos entre nós...
A inevitabilidade da dor e a opcionalidade do sofrimento
Autoria Desconhecida
A cada dia que vivo, mais me convenço de que o desperdício da vida está no amor que não damos, nas forças que não usamos, na prudência egoísta que nada arrisca, e que, esquivando-se do sofrimento, perdemos também a felicidade. A dor é inevitável. O sofrimento é opcional.
(Autor Desconhecido)
Nosso egoísmo constantemente nos compele a reclamar da vida. Achamos ruim porque o trânsito está congestionado. Resmungamos em virtude da fila do banco. Nos sentimos infelizes por nossos saldos bancários. Invejamos aqueles que têm mais do temos. Queremos a onipotência e a onipresença que nos garanta estar em todos os cantos desfrutando de autoridade e força perante qualquer um...
Quando fazemos isso despertamos, inconscientemente, a fúria dos céus. Como ousamos reclamar tanto se temos saúde? O que nos leva a desfilar nosso rosário de queixas se estamos empregados e trabalhando? Por que queremos ter mais do que temos se vivemos confortavelmente? Que motivos nos fazem infelizes se desfrutamos do amor e do carinho de nossos mais próximos entes?
Parece que em momento algum de nossas vidas nos sentimos totalmente bem, da forma como tanto almejamos. Somos escravos de um modo de vida consumista e nos perdemos diante de tantos desejos que são propositalmente colocados em nossas cabeças. Somos pequenos demais para compreender que as maiores alegrias de nossas vidas podem ser resumidas apenas nos sentimentos mais puros que temos em relação aos amigos e familiares e que, em contrapartida, recebemos dos mesmos...
Nos descabelamos por motivos banais. Arremetemos muitas vezes essa nossa insatisfação em direção às pessoas que fazem a vida valer a pena. Destilamos nosso rancor e amargura em nosso ambiente de trabalho e acabamos magoando pessoas que só nos querem bem. Já parou para pensar nisso? Quantas pessoas queridas você magoou somente por não ter conseguido aquela promoção ou o carro novo com que sonhava?
Não podemos permitir que sejamos prisioneiros dessas pequenas e injustificadas faltas ou ausências materiais. O que nos resta depois de toda a vida percorrida senão o abraço forte, o afago carinhoso, o beijo apaixonado ou a mão que nos ajuda a levantar quando somos derrotados? É desse memorial que devemos tirar a razão de viver.
Temos que arriscar mais. Não podemos deixar a vida passar sem ter dito com plenas palavras o quanto amamos alguém. A chuva que cai lá fora está lhe convidando para um reconfortante e refrescante caminhar, porque não ir? O mergulho na água do mar está lhe fazendo falta, o que lhe impede de estar lá, aproveitando a vida? A ausência de uma pessoa querida o magoa e fere a ponto de doer o coração, que tal ir de encontro a esse amor?
Não permita que a vida passe ao largo sem que você possa curtir cada momento precioso que temos nesse mundo. Sorria para a vida e para as pessoas. Temos apenas alguns anos de existência e cada minuto deles deve ser sorvido como a melhor refeição que já tivemos a oportunidade de experimentar. Dê a si mesmo o maior de todos os presentes, a felicidade...
O autor trouxe a nós a alegria a partir de suas poesias e textos. Deixou-nos um legado de valor inestimável e através de suas palavras nos permite vôos altos rumo a imensidão dos céus e mergulhos profundos em direção a necessária compreensão de nossas almas e existências. Sorver cada uma de suas preciosas letras é também um exercício de satisfação na busca pela paz interior que tanto desejamos...






















































































































































































































































A Natureza se Recria
Hélio Arakaki
A natureza sempre decide em se recriar. E você também é a natureza.

Conta certa história que dois sujeitos caminhavam lado a lado. Enquanto um não se cansava de elogiar a beleza do céu estrelado, do outro só se ouviam reclamações sobre os buracos e as pedras do caminho. Esta narrativa demonstra que é através da nossa percepção é que nos posicionamos no mundo, se de forma positiva ou negativa. Isso significa que somos os únicos responsáveis por sermos do jeito que somos. Tudo passa pela questão do livre-arbítrio, da capacidade de tomar decisões.

A natureza nos revela muitas lições que podemos utilizar para estabelecer uma postura mais realizadora e positiva na vida. Uma delas é a capacidade de recriação. Os cientistas denominam a isso de auto-organização. E que na dimensão humana eu costumo associar com a nossa capacidade de decisão.

Observemos o período prolongado da seca. A mata, ressentindo do calor e da falta de água, dá a impressão de que as plantas ali não resistirão. No entanto, nas primeiras gotas de chuva o potencial de vida é estimulado. Já no dia seguinte ao da chuva constataremos os verdes brotos viçosos rompendo o solo, alterando o que até então era uma paisagem cinzenta e desoladora. A vida se auto-organizando, recriando, renascendo das cinzas!

Na realidade humana, encontramos exemplos fabulosos de pessoas que enfrentaram uma situação devastadora, tendo conseguido não somente superá-la, mas tendo elas recriado a si mesmas, conferindo-lhes um significado grandioso da vida.

Estes dias assisti a entrevista de João Carlos Martins, um dos mais talentosos instrumentistas que o Brasil já teve. Para se ter uma ideia de seu talento, tocou com as maiores orquestras americanas, além de gravar a obra completa de Bach para piano.

Tragicamente teve, por forças misteriosas do destino, a sua carreira de pianista interrompida por várias vezes. A primeira interrupção aconteceu quando teve um nervo da mão direita rompido jogando futebol em Nova York. Mesmo diante das perspectivas nada favoráveis, decidiu manter-se firme no seu propósito de retornar aos concertos.

Depois da cirurgia e um longo processo de tratamentos, retornou aos concertos, mas sem poder contar com os movimentos perfeitos de sua mão.

Tempos depois, contraiu LER devido aos longos períodos de estudos e práticas que se submetia diariamente. Chegou a abandonar a carreira. Mas a sua paixão pela música foi mais forte que as limitações físicas, decidiu retornar. Para isso, desenvolveu uma forma de executar suas peças utilizando apenas a mão esquerda.

E o destino novamente impôs-lhe uma restrição. Ao ser assaltado na Bulgária, recebera um golpe na cabeça que acabou originando dores intensas em suas mãos, principalmente na esquerda. Ao invés de parar, decidiu se submeter aos tratamentos e treinamentos para poder tocar com os dedos que podia usar de cada mão. E foi o que aconteceu.

Mas o tempo foi impondo gradativamente as restrições até que se viu forçado a renunciar ao piano, mas não renunciou o seu amor pela música. Decidiu tornar-se maestro. E novamente a sua decisão lhe confere um prêmio. Em Maio de 2004, fez a sua estréia regendo a English Chamber Orchestra, uma das maiores orquestra de câmara do mundo, com uma ressalva: incapaz de segurar a batuta e virar as páginas da partitura, João Carlos faz um trabalho minucioso de decorar as partituras!

Atualmente, João Carlos Martins realiza um trabalho de iniciação à música com jovens carentes no Brasil.

Na entrevista, fica bem evidente a sua postura positiva e de abertura em relação à vida. Revelando um senso de humor incrível, brincou: antes eu chegava a tocar vinte e uma notas em um segundo, hoje toco uma nota em vinte e um segundo.

Rolando Toro, criador do Sistema Biodanza, afirmou que somos pavorosamente livres. Tal pavor se deve, em grande parte, ao medo de se decidir em relação a um dilema, a uma escolha, uma vez que isso significa correr riscos. O irônico é que não tomar nenhuma decisão também é uma decisão.

É através das decisões que seguimos adiante na jornada pela vida. A decisão abre as portas da realidade. Que realidade você deseja adentrar? Uma realidade rica ou pobre de alegria, satisfação e criatividade?

Ninguém pode decidir por você e tampouco pode impedir de você decidir o que quer, a não ser que você permita. Não decida em se tornar uma natureza morta.

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